
Epilepsia: como ajudar o meu cão que foi diagnosticado com a doença
Como se diagnostica a epilepsia?
A maioria dos cães que são diagnosticados com epilepsia têm epilepsia primária (também chamada de epilepsia idiopática, por não ter uma causa identificável).
A epilepsia pode afectar a generalidade dos cães, contudo é mais comum em cães jovens, com idades compreendidas entre os 1 e os 5 anos, e existe prevalência em nalgumas raças como: Labrador Retriever, Golden Retriever, Pastor Alemão, Boxer, Beagle, Poodle e o Irish Setter.
Embora menos comum, cães com idades inferiores ou superiores às descritas também podem ser afectados por epilepsia.
Infelizmente não existe um único teste de diagnóstico que permita identificar a epilepsia primária nos animais. Assim sendo, o diagnóstico é feito por exclusão de outras condições e para tal, o seu médico veterinário contará com a descrição dos acontecimentos por parte do tutor, da história clínica anterior, de um exame físico e neurológico completo e de um conjunto de análises e exames que permitam despistar outras condições que também possam ocasionar ataques epilépticos .
É comum que cães com epilepsia primária não tenham qualquer alteração nos resultados das análises laboratoriais ou tenham alterações muito ligeiras. Em muitos casos, o médico veterinário pode sugerir que consulte um especialista em neurologia e que seja feita uma ressonância magnética para avaliar a presença de lesões cerebrais.
Cães com epilepsia são saudáveis e normais em todos outros aspectos. Apesar de não haver uma cura, existe tratamento para a epilepsia que é mantida ao longo da vida do cão. A maioria dos cães e as suas famílias conseguem manter uma vida saudável e feliz.
Como posso ajudar durante uma convulsão?
É difícil estar realmente preparado para um episódio convulsivo. Contudo há certas medidas que podemos tomar para ajudar a controlar a situação e promover uma recuperação tranquila.
Em primeiro lugar, ao tomar conhecimento que o seu cão está a ter um ataque epiléptico convulsivo, deve tentar manter a calma e não actuar de “cabeça quente”. Os episódios convulsivos podem ser visualmente impressionantes e até assustadores mas lembre-se que o seu cão não está consciente e que não está a sentir dor.
Com calma, aproxime-se do seu cão e verifique se está numa zona e posição segura. Se possível afaste objectos próximos com os quais possa embater ou derrubar (móveis, mesas, escadas, candeeiros ou fios eléctricos) e causar lesões.
Lembre-se que, numa convulsão, há uma actividade cerebral anormalmente aumentada e por isso é vantajoso diminuir o número de estímulos sensoriais: apague as luzes, desligue a televisão e tente minimizar o barulho ambiente. Um ambiente tranquilo promove uma melhor recuperação.
Se tiver outros animais presentes ou crianças, retire-os do local se possível. O cenário causa ansiedade em todos os presentes e dado que, após a convulsão, o seu cão pode estar desorientado, deve assegurar-se que pode recuperar com calma e sem grande agitação.
É importante mencionar que não deve colocar a sua mão na boca do seu cão; o seu cão não vai engolir a língua, mas lembre-se que o seu cão não está a controlar os movimentos da sua mandíbula e pode acabar por mordê-lo sem querer.
Não levante nem se agarre ao seu cão durante uma convulsão. Como referido, é comum os cães ficarem num estado de desorientação ao recuperar da convulsão e poderão mesmo manifestar algum tipo de agressão. Além disso, muitas vezes há perda de controlo dos esfíncteres e acabam por libertar fezes e urina durante as convulsões, pelo que poderá ficar bastante sujo.
Tente tomar nota do máximo de detalhes possíveis: hora de início e duração do episódio, alterações comportamentais antes, tente descrever a convulsão e o tipo de movimentos que ocorreram, bem como o comportamento do seu cão no período após a convulsão.
Se possível, filme ou peça para filmar a convulsão. Ter um registo destes pode fornecer uma ajuda valiosa ao seu médico veterinário e ajudar a orientar e adaptar o tratamento.
Na eventualidade de já ter conhecimento da condição, segundo as indicações do seu médico veterinário, poderá utilizar a medicação recomendada para uma situação de convulsão.
Geralmente as convulsões não são episódios longos e duram poucos minutos. No entanto, caso a convulsão tenha uma duração superior a 5 minutos ou o seu cão tenha duas ou mais convulsões em menos de 24 horas procure cuidados médico-veterinários.
O que é e para que serve um diário de convulsões?
Manter um registo de ataques epilépticos convulsivos é uma ferramenta muito útil para compreender e acompanhar de forma mais próxima a condição do seu cão.
Anotar a hora de início e fim da convulsão, os comportamentos antes e após a convulsão e registar o número de convulsões por mês permite-lhe a si e ao seu médico veterinário reconhecer eventuais padrões na epilepsia do seu cão e resposta ao tratamento.
Apontar as alterações comportamentais antes e após cada convulsão pode ajudar a reconhecer eventuais convulsões futuras e como o seu cão irá reagir ao recuperar; ao mesmo tempo, permite ter uma noção da duração dos episódios convulsivos.
Uma outra vantagem de um diário de convulsões é que, registar o número de convulsões por mês, permite-lhe acompanhar a condição, avaliando a sua evolução ao longo do tempo. Pode comparar o número de convulsões com os meses anteriores e perceber se estão a aumentar ou diminuir de frequência. Para o seu médico veterinário, estas são informações podem ser essenciais para reconhecer a necessidade de ajustar a medicação.
Existem diversas formas de acompanhar e manter um registo dos episódios convulsivos. Pode socorrer-se de um suporte físico, uma tabela em papel, ou utilizando mesmo o seu telemóvel para registar estes dados.
Hoje em dia, existem até aplicações móveis que permitem registar informações e acompanhar os planos de tratamentos veterinários. Podem revelar-se ferramentas muito útil para registar os episódios convulsivos. Em papel ou digital, o essencial é manter sempre actualizado o diário de convulsões do seu cão.

Será que o meu cão tem Epilepsia?
Quem nunca ouviu falar de epilepsia? No entanto, muitas pessoas pensam que apenas o ser humano pode ser afectado. A verdade é que os nossos animais de estimação também podem sofrer deste problema.
O que é a epilepsia?
Resumidamente, podemos dizer que a epilepsia é uma doença caracterizada por ataques epilépticos (convulsivos ou não convulsivos), que ocorrem com maior ou menor frequência.
A epilepsia pode ser idiopática (significa sem causa conhecida). Esta é a forma mais comum de ataques epilépticos nos cães. No caso da epilepsia idiopática, o início das crises epilépticas ocorre normalmente, em animais adultos jovens entre 1 e os 5 anos de idade. Este tipo de epilepsia pode ter uma componente hereditária nalgumas raças, como o Pastor Alemão, Labrador Retriever, Beagle, Collie, São Bernardo, entre outras. No entanto, esta doença pode afectar qualquer raça ou cruzamento.
A epilepsia pode ser também secundária a doença intracraniana, sendo este tipo de epilepsia mais frequente em gatos, cães idosos ou cães muito jovens. Neste caso, os sintomas são causados por problemas estruturais a nível cerebral, como por exemplo doenças inflamatórias ou infeciosas que deixam cicatrizes no cérebro, lesões após traumatismo cerebral, tumores cerebrais ou malformações congénitas.
É importante compreender que, havendo epilepsia, temos quase sempre ataques epilépticos sob a forma de convulsões, mas também podem haver convulsões sem haver epilepsia.
Existem situações, em que o animal pode apresentar convulsões e não ser epiléptico, como por exemplo, devido a intoxicações, doenças metabólicas ou traumatismos. Nestes casos, para além das convulsões, os pacientes apresentam outros sintomas. Isto é diferente do animal com epilepsia idiopática que não tem sintomas nos períodos entre “ataques”.
É muito importante que rapidamente se consigam excluir todas as outras causas de convulsões, de forma a se poder esclarecer se estamos perante um animal com ou sem epilepsia.
No caso dos animais epilépticos, importa ao tutor saber o que é um ataque epiléptico e entender as suas diferentes fases. É muito raro que ocorra à frente do médico veterinário, aquilo que a família do paciente descreve como sendo um “ataque”. Sempre que possível, deverão filmar o episódio do ataque, de forma a ser possível ao clínico visualizá-lo.
Um ataque epiléptico convulsivo ou convulsão é um episódio de actividade eléctrica anormal no cérebro. Geralmente, numa convulsão epiléptica, o acontecimento é descrito como havendo perda ou alteração da consciência, movimentos/contrações musculares descontrolados, defecação e micção involuntária. A duração média do episódio é de 1 a 2 minutos. Mas as convulsões não se limitam aos sintomas mais visíveis. Na verdade, cada convulsão pode ser dividida em 3 partes:
- um período antes da convulsão (chamado Fase Pré-ictus ou Aura): pode ser rápido e imperceptível nalguns casos ou demorado e com alterações visíveis noutros. Ao serem conhecidos os sinais desta fase, a família pode conseguir prever o início de uma convulsão. Podem verificar-se comportamentos fora do normal, como ganir, agitação e ansiedade (alguns animais escondem-se ou deambulam sem grande orientação), podem ainda salivar em excesso ou lamber-se intensamente.
- Em seguida surge a convulsão propriamente dita (Fase Ictus): normalmente ocorre perda de consciência (embora alguns possam permanecer alerta mas ansiosos e com tremores generalizados). Outros sintomas incluem alterações do tónus muscular e movimentos descoordenados (podem ficar deitados de lado e mover os membros como se estivessem a correr), movimentos de mastigação involuntários (podem morder a própria língua), salivação excessiva (muita espuma em torno da boca) e a grande maioria defeca e urina nesta fase. Esta fase dura desde alguns segundos a poucos minutos.
- Por fim, a última fase (Pós-Ictus): pode durar apenas uns segundos até a algumas horas ou dias. É a fase desde a convulsão até à recuperação do estado normal do animal. Alterações de comportamento, como desorientação ou até alguma agressividade e ansiedade, cegueira transitória, sede excessiva ou apetite voraz, alterações de equilíbrio e coordenação ou sonolência, são alguns dos sintomas mais usuais.
Na grande maioria dos casos, estas crises são isoladas e esporádicas (mais ou menos frequentes dependendo de cada caso). Convém determinar com exactidão com que frequência ocorrem. Nalgumas situações, o paciente pode ter convulsões seguidas e muito próximas, de tal forma que não chega a recuperar o estado normal entre elas, designando-se este quadro por status epilepticus, sendo urgente a assistência médico-veterinária nestes casos.
A epilepsia é uma doença crónica, pelo que os “ataques” se vão repetir, normalmente em intervalos regulares de semanas ou meses entre convulsões. A frequência e a severidade das crises têm tendência a aumentar à medida que o animal vai envelhecendo, principalmente em cães de raça de grande porte.
É de extrema importância que consulte o seu médico veterinário assistente, assim que se verifique qualquer convulsão, e descreva todo o episódio, para rapidamente se poder proceder ao diagnóstico e instituição de terapêutica adequada se assim for necessário.
A medicação antiepiléptica é diária e contínua. Na maioria dos casos o que se regista é uma diminuição significativa quer da frequência quer da duração/severidade dos episódios. Hoje em dia já existe medicação específica para cães na área de epilepsia.
Apesar de não haver cura definitiva para a epilepsia, os animais que sejam correctamente acompanhados e medicados, poderão ter uma boa qualidade de vida.