Como se deteta um sopro cardíaco?
A auscultação cardíaca é uma ferramenta fundamental na avaliação dos sons cardíacos e assim detetar os primeiros sinais de doença cardíaca. A forma mais comum de detetar um sopro cardíaco é através da auscultação com um estetoscópio.
Frequentemente, os sopros cardíacos são detetados acidentalmente. Ou seja, são detetados sem que haja ainda qualquer sintoma de doença cardíaca. Assim, a auscultação é de extrema importância nas consultas e deve ser realizada em todas as ocasiões.
Como se distingue um sopro dos sons cardíacos normais?
Os sons cardíacos resultam da passagem do sangue através das câmaras cardíacas e dos grandes vasos, responsáveis pela circulação do sangue pelo organismo.
De uma forma breve, num coração saudável são audíveis dois sons principais – muitas vezes descritos como “lub-dub”. Estes sons correspondem ao encerramento das válvulas do próprio coração e das válvulas dos grandes vasos sanguíneos.
Quando o sangue passa dos átrios para os ventrículos dá-se o encerramento das válvulas que separam “o interior” do coração (a Mitral e a Tricúspide). Este encerramento é o primeiro som cardíaco – “lub”. O segundo som audível, o “dub”, corresponde ao encerramento das válvulas dos vasos que levam o sangue para fora do coração (a aorta e a artéria pulmonar).
Estes sons repetem-se ao longo do ciclo cardíaco e permitem avaliar a função cardiovascular.
Num coração saudável, os sons cardíacos (“lub-dub”) são normalmente de curta duração. Os sopros, por outro lado, têm uma duração maior e podem ser auscultados em períodos do ciclo cardíaco que seriam normalmente silenciosos.
Como descrito, os sopros correspondem à passagem de sangue num sentido oposto ao fluxo sanguíneo, por falha no encerramento adequado das válvulas cardíacas.
Quando detetados, os sopros cardíacos são classificados consoante são auscultados durante a contracção cardíaca ou durante o relaxamento. Também se classificam consoante a sua localização e a sua intensidade.
Uma vez identificado um sopro cardíaco, mesmo na ausência de sinais clínicos, devem ser realizados outros exames complementares de diagnóstico. A radiografia torácica e a ecocardiografia permitem avaliar a morfologia cardíaca e garantir uma base de referência para avaliar a progressão da doença cardíaca. Estes exames também permitem adequar o tratamento necessário para retardar a evolução da doença.
De que forma ajudam os outros exames no diagnóstico da doença da válvula mitral?
A radiografia torácica permite avaliar diversas características cardíacas, entre as quais a avaliação da dimensão do coração e das suas câmaras. O coração com um sopro causado por doença da válvula mitral pode, inicialmente, não ter qualquer alteração de tamanho. Com a progressão da condição, o coração tende a aumentar de tamanho. A esse aumento chama-se cardiomegália.
Avaliar se existe um aumento significativo no tamanho do coração é de extrema importância. Cães com doença da válvula mitral e com cardiomegália apresentam maior probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva num espaço de 12 a 24 meses, do que cães sem cardiomegália.
Diagnosticar cardiomegália permite assim fornecer um prognóstico sobre a condição dos pacientes e permite aos médicos veterinários desenhar um plano terapêutico apropriado.
Outra ferramenta igualmente útil, é a avaliação cardíaca através de ecografia. A ecocardiografia permite avaliar a morfologia e dimensão das câmaras cardíacas, a função das válvulas e o fluxo sanguíneo. Esta avaliação ecocardiográfica é útil para confirmação de cardiomegália e para o estadiamento da doença.
O diagnóstico e a avaliação da doença cardíaca pode ser, muitas vezes, desafiante. Por isso poderá ser necessário recorrer a um médico veterinário especialista em cardiologia.
Quando se deve iniciar o tratamento?
Ao ser detetado um sopro cardíaco, depois de realizados os exames complementares de diagnóstico, deverá ser orientado um plano de tratamento.
Atualmente os estudos demonstram que é vantajoso iniciar terapêutica em cães com doença da válvula mitral e com cardiomegália confirmada. Isto, mesmo antes de surgirem sinais clínicos como intolerância ao exercício, tosse ou problemas respiratórios.
Animais nestas condições, dizem-se numa fase pré-clínica (anterior ao desenvolvimento de sinais clínicos). O objectivo de iniciar uma terapêutica nesta fase, é o de prolongar ao máximo o tempo de vida dos pacientes diagnosticados com doença degenerativa da válvula mitral.
Na verdade, com a medicação adequada, é possível retardar o aparecimento de sinais clínicos e prolongar o tempo de vida durante meses.
Assim, um diagnóstico atempado é fundamental!
Dado que é uma condição tão frequente, é de extrema importância realizar check ups regulares a todos os cães de maior idade, especialmente nos cães com predisposição conhecida para doença da válvula mitral.
Aos pacientes a quem já foram detetados sopros cardíacos, é recomendada a realização de exames complementares de diagnóstico. Estes exames devem ser repetidos de forma regular. O ideal é acompanhar a evolução da doença e adaptar o tratamento.